Clube dos cinco mostra um sábado de detenção na escola de cinco alunos indisciplinados . Nenhum deles são amigos, na verdade, os cinco são estereótipos de toda escola norte americana dos anos 80: um marginal e um nerd, uma esquista caladona, um atleta e uma patricinha.
O filme começa sem você saber ao certo porque eles estão ali pagando detenção (sem contar, lógico, o marginal) e qual personagem você deve simpatizar pra seguir até o fim do filme. Tentei seguir o marginal , meio punk meio grunge, anarquista e porra louca, ele parecia ser o mais legal até se mostrar um verdadeiro delinqüente. Depois tentei seguir o nerd ( que por um acaso é o narrador no começo do filme), ele é fraco, desajeitado, meio engraçado, inteligente e por fim, muito chato. Descartei de cara o atleta e a patricinha e fui pra menina estranha muda. Muito estranha. Não deu.
Os cinco vão passando o dia de detenção juntos em uma escola vazia sob a tutela de Sr. Vernon,um diretor bastante blasé. Eles passam o dia brincando, dormindo, fumando maconha na biblioteca, fazendo pares românticos e dançando e cantando juntos à lá Footloose.
Porra de filme de merda hein?
Seria se não tivesse uma baita carga dramática no meio dele. Quando você está prestes a se cansar dele, os personagens dão um salto na história e começam a contar porque estão ali. E cara, é emocionante a cena de confissão de cada um deles. Os cinco começam a conversar sobre os problemas familiares, o medo de crescer e todas as angústias de adolescente. Questionam juntos a sociedade, os valores e seus comportamentos. Sem querer dar spoilers (o que é sem noção. Não se dá spoilers de um filme com mais de 25 anos) o nerd teve que pagar detenção porque foi pego com um revolver no armário, o forte atleta está ali porque foi um medroso, um covarde. A estranha caladona foi detida porque só falava mentiras, a popular patricinha porque era insegura e o marginal porque no fim das contas queria ser amado. Confuso? Tanto quanto a sua cabeça na adolescência.
De alguma maneira, em algum momento do filme você simpatiza com algum dos personagens. Pra mim a trajetória deles é uma alegoria à transição entre a infância e a vida adulta. Cada um deles errou, pagaram e foram forçados a parar pra pensar no que fizeram (dia de detenção), confessaram suas falhas diante da sociedade (conversas entre eles) e seguiram com o peso de suas culpas e escolhas e um desejo sincero de mudança (planos que fizeram para o primeiro dia de escola depois da detenção).
É bem o que diz a carta deixa pelo nerd ao diretor:
Caro Sr. Vernon, aceitamos o fato de que nós tivemos que sacrificar um sábado inteiro na detenção por tudo o que fizemos de errado ... e o que fizemos foi errado, mas acho que você está louco para nos fazer escrever este texto dizendo-lhe o que pensamos de nós mesmos. Que diferença faz pra você? Se nos enxerga como você deseja nos enxergar. Em os termos mais simples e com as definições mais convenientes. Você nos enxerga como um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso. Correto? Essa é a maneira que nós víamos, às sete horas desta manhã. Passamos por uma lavagem cerebral.
E eu aqui pensando que ser adulto era só pagar contas.
A trilha sonora é da banda Simple Minds com a música tema: Don't you forget about me