segunda-feira, 14 de março de 2011

Lovely Freak Show

PARA LER OUVINDO:


 Estava tocando “Me Chama Que Eu Vou” na vitrola quando o anão do circo, Beto Pé Grande, entrou em seu trailer. Sempre odiara aquela novela, Rainha da Sucata. Odiava lambada, Regina Duarte, Laurinha Figueroa, Sidney Magal e agora sua esposa.

              -Ana de Amsterdan! Sua vadia!  Gritou ao abrir a porta.

              -Tá ficando louco ô lenhador de bonsai? Respondeu Ana, a mulher barbada.

              -Não me venha com história! Eu sei que você está tendo um caso com o mágico.

Ana se enfurece, sente os pelos da barba se arrepiarem e grita:

               -Quem? Eu? Tá louco?

               -Sim! Eu soube que ele estava alisando sua barba e que a senhora limpou os arcos e a varinha dele.

               -Isso só pode ser piada. Quem inventou isso?

               -Não importa!

               -Importa sim senhor! Diga agora qual foi o palhaço que inventou isso? Ou eu porei fogo em seu triciclo!

São cinco elementos apunhalando o coração. O fogo, a terra, a água o ar e a paixão...

            Canta Sidney Magal na vitrola enquanto betão baixa a cabeça, fica pensativo por alguns instantes, pensa na falta que faria o vento no rosto e a sensação de liberdade que o triciclo sempre lhe proporcionou e diz:

               -Foi o caçarola. Eu estava no bar com ele, os outros palhaços e os acrobatas.

               -Aí você chega aqui e me acusa? Sem nem saber se é verdade? Palhaçada viu? Olha, posso ser Ana do dique e das docas, da compra, da venda e do caralho! Mas não sou infiel. Eu sempre lhe respeitei seu vigia de casa de boneca! E outra, se você não sabe, no penúltimo espetáculo, o mágico entrou pela cartola e saiu do armário. Ele tá namorando o engolidor de espadas.

Hey, eô, eô! Grita o rei da lambada.

                -O engolidor de espadas?

                -Exato. Mas agora que você falou de cafajestice, falou caminhando rumo à vitrola e mudando o disco - eu quero que você me explique, aquela história que as siamesas me falaram, de que a domadora de tigres viu você amolegando aquela novata, a mulher elástico.

                 -Meu bem, eu estava ajudado ela a se alongar.

                 -Ah é? Aí você aproveitou, se alongou também e de quebra apresentou o picadeiro pra ela né? Seu arquiteto de lego.

                  -Minha barba doce, seja mais flexível...

                  -Flexível? Então quer dizer que eu não sou flexível o bastante para você?

                  -Não é isso que eu quis dizer minha peludinha.

                  -Era sim! Sorte sua que eu devolvi as facas do atirador!

                  -Barbudinha, você não percebe que estão armando pra cima da gente?

                 -Eu percebi. Percebi que você foi quem ficou de barraca armada quando as dançarinas de cancan passaram por você no último espetáculo. Admite Jóquei de cavalo-marinho!

            A mulher barbada sai aos prantos do trailer rumo ao da Feiticeira Madame Margot, no meio do caminho chuta os macacos cantores, que faziam uma serenata para a monga e grita com os cachorros dançarinos que pulavam pra lá e pra cá.

                 -Margot, me acode! A sua bola de cristal acertou, realmente foram as pequenas coisas que me deram dor de cabeça. Buááá...

            Enquanto isso, Beto fica no trailer. Pensou até em correr atrás de Ana, mas seria uma cena bizarra demais, um anão correndo pra consolar uma mulher barbada. Melhor deixar as coisas se aquietarem. As siamesas, a domadora de tigres e os palhaços inventaram aquela história. Queriam mesmo ver o circo pegar fogo. Se vingaria, mas não essa noite. Juntou algumas de suas coisas e saiu rumo à barraca do Faquir. Sabia que lá teria uma cama para dormir.

 


4 comentários:

  1. Caralho, donio! Espetacular! Isso é o tipo de conto de SÓ poderia sair da sua cabeça! de verdade.... Acho que nós deviamos nos juntar - eu, vc, dhenis e quem mais queira - e escrever um livro de contos pra concorrer a um edital, o que me diz?

    P.S.: como é que vc arrumou tanto apelido pra um anão?!

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  2. parte I - adorei o conto! bem você! nunca imaginei ana de amsterdã como uma mulher barbabada. hehe Adorei as sacadas e as tiradas.
    Espero outros com ansiedade.

    parte II - rapaz, se num desse dinheiro eu botava a mayara em uma AA pra viciados em edital.

    Parte III - é que nós jogamos a sociedade do anão, daí tantos apelidos may. heheheh

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  3. Cara... Não sei se só sou eu.. mas sempre que vejo um texto foda eu fico pensando em realizá-lo em audiovisual... Esse teu texto é um desses que merecem ser rodados... Congratz...

    Esperando o próximo!

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  4. Os apelidos de anão são ótimos, hehehehe, cade o Ícaro?

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